domingo, 30 de outubro de 2011

Ex-presidente do BC critica "cacofonia" sobre taxa de juros

As duas últimas reduções na taxa de juros no Brasil mostram que o Banco Central (BC) está assumindo riscos inflacionários um pouco maiores que seus antecessores, segundo o ex-presidente da autoridade monetária Gustavo Loyola. O economista, que participa de um encontro com a imprensa realizado pela fabricante de software corporativos SAP em Campos do Jordão (SP), não acredita que há interferência política nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), mas critica uma "cacofonia" na taxa de juros. "Presidente da República e ministro não tem que falar de taxas de juros. Bastaria a presidente falar que tem confiança no BC, essa seria a grande fala", afirmou Loyola.
O economista afirma que a redução da taxa de juros em 0,5 ponto em agosto após um ciclo de cinco altas seguidas pegou o mercado desprevenido. "As expectativas são fundamentais no processo de controle de inflação. O BC construiu um regime que coordenou as expectativas e as levou a um certo ponto. O que houve foi que o BC vinha em um processo de elevação de juros, passando uma imagem de aperto monetário ao mercado e de repente agiu na direção contrária, e não conduziu o mercado para o caminho que iria tomar", disse o economista.
Loyola avalia que o órgão está legitimamente preocupado com as repercussões da crise financeira internacional no País, e antecipa um "mix" de políticas em que o afrouxamento monetário substitui a exapansão fiscal, uma mudança em relação ao enfrentamento da crise em 2008 e 2009. "O efeito desinflacionário da crise externa depende fortemente do comportamento do câmbio e dos preços das commodities, embora não seja o cenário mais provável. As perspectivas para o Orçamento de 2012 são muito negativas, tendo em vista a expansão dos gastos já contratados", afirmou.
O economista avalia que o Brasil deve ter neste ano um crescimento do PID de 3,3%, número que deve crescer para 3,6% no ano que vem. A inflação, prevê Loyola, deve fechar em 2011 em 6,6% e cair para 6% no próximo ano. A economia brasileira deve crescer no ritmo da economia mundial. A previsão de crescimento de países como China e Índia é maior, podendo chegar a 7% e 9% em 2014, respectivamente. Já a tendência para os países desenvolvidos é mais modesta em virtude da alavancagem de agentes privados e governos. Até 2014, os Estados Unidos devem chegar a uma taxa de crescimento de 2,3%, a Europa em torno de 2,1% e o Japão, 1,8%.

Conjuntura
O Brasil, segundo Loyola, vem apresentando bons fundamentos macroeconômicos. O sistema financeiro está pouco exposto a riscos externos, a situação externa - com com reservas internacionais superiores à dívida externa - e a estabilidade macroeconômica com câmbio flutuante tornam o Brasil um dos destinos favoritos das multionacionais, segundo ele. "Não será uma pequena crise que deixará o Brasil sem capital", afirmou.
"Tivemos avanços nos últimos anos, temos instituições solidas, não perfeitas, mas avançamos muito. O País é democratico, tem uma imprensa livre que detecta erros e evita grandes desvios e a sociedade é mais intolerante à inflação", disse. "O Brasil se tornou um país mais previsivel e erros podem ser detectados", completa.
Porém, o ex-presidente do Banco Central destaca que o Brasil ainda tem muitos desafios para enfrentar e são necessárias políticas públicas para enfrentá-los. "O Brasil é um país que tem tudo para dar certo, mas precisa de reformas estruturais. é muito caro produzir, precisamos buscar reformas que tornem a cadeia brasileira mais produtiva", avalia.
O economista ainda destaca o setor público muito exposto à corrupção, a educação de baixa qualidade e a baixa taxa de poupança como desafios a serem enfrentados, juntamente com o aumento da intervenção do governo na esfera pessoal e empresarial e do risco de retorno de "velhas práticas" e da inflação.

Riscos
Segundo Loyola, o maior risco para a economia mundial é uma crise bancária na Europa derivada do endividamento dos países da Zona do Euro. Para o economista, as medidas anunciadas na semana passada são positivas e tornam menos provável o cenário pessimista. "Uma crise bancária na Europa poderia levar o crescimento mundial a cair para 1,2% em 2012, mas a probabilidade disso acontecer é de 10%", afirma.

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